Literatura-33.O tálamo...

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Se a noite fosse fria, poderia fazer uma pequena fogueira. Ali sentei com meus pensamentos e esperei a noite chegar. A luz amarelada do sol ainda clareava as partes mais altas dos escombros, quando eles começaram a chegar. Eram grandes, magros e transmitiam no olhar somente maldade. Tinham sentido talvez meu cheiro e vieram em minha direção. Para mim aquilo era uma raça de lobos dos maiores que existiam e todos da cor branca. Alguns tentavam subir a escada sem sucesso. Parecia que a fome os comandava na busca pela caça. E a caça desta vez era eu. Comecei a verificar toda a área em cima da plataforma, para descobrir alguma falha por onde pudessem ter acesso até onde estava. Felizmente não tinha. Meu estomago começava a incomodar pelo tempo passado sem comer. Tinha algumas bolachas na mochila e comi-as devagar com um pouco de água. Fiz a fogueira de tamanho pequeno, considerando a quantidade de material combustível que tinha na pequena área. Dizem que fogo mantém animais a distância e também atrai insetos, entre eles, aracnídeos. Os insetos confundem a luz e acham que é a do dia, caindo no fogo ou pousando nas proximidades. Os outros vem para a claridade para pegar os insetos. Me lembro que quando criança, ia até embaixo de postes de iluminação em noites de verão para ver aranhas. Não demorou muito e estava à minha frente um enorme escorpião. Era do tamanho de minha mão. Fiquei arrepiado e com um chute, joguei-o sobre a cachorrada lá em baixo. Não deu para ver detalhes, mas parece que o engoliram sem cerimônia depois de um ganido de dor. Devia ter picado um deles. Acuado em uma plataforma pequena, sem sequer poder relaxar um pouco sentado, evitando o perigo de ser picado por um bicho daqueles, uma irritação começou a tomar conta de mim. Prevendo que passaria a noite sem dormir, já cansado da situação,revoltado, estressado, resolvi reagir. 

Peguei uma lata de solvente e abrindo-a atirei no meio dos animais. Imediatamente joguei uma ripa com fogo e em seguida vi três focos de fogo se movimentado de um lado para outro, no desespero, com as chamas consumindo sua pelagem. Joguei mais uma lata, mas esta já atingiu somente o solo em chamas, dando uma explosão de luz, mostrando todo o cenário macabro. Os animais atingidos pelo combustível tornaram-se estranhos aos outros e com os pelos queimados, já meio mortos pelo fogo, foram atacados pelos demais em uma terrível cena de canibalismo. Quando o dia deu os primeiros sinais, a matilha em fila foi se retirando. Achei que seguindo o caminho do bom senso, viveria mais. Já com a segurança do dia,me deitei a sombra , usando a mochila de travesseiro. Ali começava minha noite de sono. Se dormisse algumas horas já seria o suficiente. Quando acordei, o sol já estava na posição das dez horas. Me senti melhor depois da dormida e com a mente mais limpa,comecei a planejar a saída daquele lugar. Esperei mais um pouco e observando ao redor, desci pela escada e rumei para o lado contrário da rota dos lobos. Entre as carcaças dos que foram devorados, jazia um inteiro, intocado. Devia ser o que o escorpião picou. Com a arma na mão e andando depressa, depois de meia hora de caminhada ofegante, saí dos escombros e entrei em um deserto. Mais uma hora, cheguei até um bloco de pedra onde parei para descansar.

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