Literatura- 9 O tálamo...

                                                                             9
Nesta nova vida, simples,nada tinha de objetivo, mas tinha algo muito precioso: Paz e sossego. Vivia os dias com a cabeça fresca e com tranquilidade. Estava aprendendo a dar valor para as coisas mais simples e práticas,tentando me adaptar ao momento,olhar a vida pelo lado positivo. O novo emprego dava oportunidade de ficar conhecendo muitas pessoas. Era como estar o dia todo exposto em uma vitrine. As amizades surgem nessas circunstâncias. Em pouco tempo fiquei conhecendo muita gente. Naquele burburinho do povo entrando e saindo, fiquei conhecendo Eliza. Moça bem interessante. Não era bonita igual minha ex, mas tinha algo que me atraía, e até hoje não sei explicar suas idas constantes ao banco. Quase sempre se detinha um momento para conversar comigo. A conversa era na maioria das vezes, banalidades. Em pouco tempo já nos considerávamos velhos amigos. Certo dia, a convidei para sair e conversar, livre do tempo e dos compromissos do trabalho. Ela aceitou. Fomos a uma pizzaria, falamos bastante e fiquei conhecendo mais detalhes da sua vida. Ela por sua vez também, fez um monte de perguntas a meu respeito, principalmente sobre o meu casamento fracassado. Interessante a curiosidade feminina. Queria saber também o nome de minha ex-esposa. Eu respondi:-
----Beatriz.
----Bonito nome. ----Eu assenti com a cabeça, e pensei um momento, que não era só o nome bonito, mas toda ela. Procurava medir as palavras , porque sabia que no fundo ela estava me pondo à prova, me analisando. Aquela coisa de: Será que ele ainda gosta dela?...Coisa de mulher. Ela era esperta e dava para perceber, no enlace das palavras e na direção dos assuntos, que ao me cercar com teorias, sempre vinha uma pergunta discretamente. Estava colhendo dados para formar opinião. Mulher inteligente age dessa forma. Nossa amizade foi tomando rumos mais sólidos. Logo estávamos tendo um relacionamento, mas sem regras e sem promessas. Eu achava muito interessante sua personalidade. Era alegre, sempre bem disposta, boa de conversa e meio atiradinha. Esse era um dos itens que eu mais gostava. Era também uma pessoa muito sincera porque contava tudo de sua vida sem omissão. Quando tinha algo a dizer não fazia rodeios e falava francamente. Um dia resolvi convidá-la a ir ate minha casa. Até então, nossas saídas eram publicas. Íamos a shoppings, a cinemas e em restaurantes. Ela aceitou naturalmente como se fosse algo que esperava acontecer. Alertei que, em minha casa, a organização das coisas não era das mais perfeitas,que não fosse ficar chocada com isso, casa de homem só é assim mesmo, pelo menos a minha era. Ela foi em um sábado a tarde. O sol estava se pondo e bandos de pássaros já procuravam abrigo para passar a noite nas poucas arvores do bairro. Pardais procuravam frestas em telhados de casas velhas. A cidade emitia um ruído nervoso de trânsito agitado. Ela entrou naturalmente, como se já conhecesse o lugar. Sentamos no sofá e entabulamos conversa. De repente ,sem qualquer aviso ela pulou em cima de mim me agarrando e cobrindo de beijos. Rolamos do sofá para o chão e fomos parar em baixo da mesa. Bati com a cabeça na perna da mesa. Na hora nada senti pelo envolvimento naquela luta pacífica, que mais parecia uma brincadeira de criança. Por alguns instantes voltei aos meus dias de infância, com os braços dela apertando meu pescoço. Acabou passando a noite comigo. Daí em diante tinha arranjado uma boa parceira. Era amiga e companheira. Parecia que gostava de estar perto de mim. Não almejava nada, não me forçava a nada. Enfim uma bela amizade toda colorida. Nunca falamos em namoro ou coisa do gênero. Para nós, bastava deixar os dias irem correndo, que a gente ia vivendo um por um. A cama que sobrou do casamento, já estava bem velha. Não sei se foi um ataque invisível e silencioso de cupins, ou pela idade da madeira, que um dia Eliza resolveu dar um pulo em cima de mim, e a cama se destroçou toda. Eu estava deitado de costas, e descemos com tudo. Ela, eu e a cama. Depois do susto, pegamos a rir da situação.

----Estava velha mesmo... Eu já ia comprar outra. ----disse, amenizando um pouco a cara de culpa que ela fazia. Essa noite colocamos o colchão no chão e dormimos despreocupados.

Nenhum comentário: