Literatura

R.Rosbar                                                                                                                     (Sem revisão)
                                         O TÁLAMO DO TEMPO

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Nossa vida é composta de um amontoado de dias que vão se transformando em semanas, meses e anos. É o tempo determinado para cada um passar um período na face da terra. É um tempo que para muitos é longo, para outros é curto. E ainda outros a terminam pela metade. Diz-se que muitas vezes não dá para fazer tudo que se quer ou realizar. Sonhos e projetos. A vida na verdade, considerando o tempo que nos é dado, é curta. Se o ser humano pensasse bem nisso, poderia ser bem melhor,não fazendo tanto mal aos semelhantes, como também para a natureza e consequentemente para o planeta. Mas infelizmente não é assim. O que vemos no dia a dia é a corrida em busca do sucesso e do dinheiro, mesmo que tenha que passar por cima do próximo. Polui-se o ambiente de uma forma crescente e sem precedentes. Os governos estão mais preocupados em ficarem ricos e continuarem no poder, em vez de levarem avante uma administração séria e honesta. A maioria dos cidadãos, vive numa disputa sem par e procurando levar vantagem nas mínimas coisas, muitas vezes valorizando banalidades que nada trazem de proveito. Pensa-se como se fosse viver duzentos anos. Ledo engano. O que conto aqui é parte da história de minha vida, principalmente quando aconteceram coisas inusitadas. Algumas vezes , não tinha certeza se era realidade ou sonho. Acredito que uma força maior que direciona nosso caminho, nos dá compensações em diferentes épocas. Ate hoje não encontrei respostas a muitas delas e as vezes misturo datas e até as sequências dos acontecimentos. Comigo foi assim. Desci até o fundo do vale da sombra e depois fui privilegiado de uma forma incomum. Meu nome é Pergali, a única herança de meu avô paterno, que era pobre como um gato. Muitos me chamam de PG. Já passei dos sessenta anos e vivo com a mulher que acho ser a ultima de minha vida. Ela tem a juventude permanente e eu já estou descendo a ribanceira da decrepitude; Esta parece gostar de mim realmente. No dia a dia, ela comprova isso e desde que a conheci é firme e resoluta nas decisões, o que me deu confiança no decorrer dos tempos. Mas pelo que passei anteriormente, era para ficar bem longe de mulheres. Gosto delas, mas uma coisa é muito importante no relacionamento homem /mulher:- Ela tem que gostar de você. Se isso não acontece, você está entrando em uma situação desastrosa. Com a primeira vivi bem durante quinze anos. Daí aconteceu algo, a meu ver, inevitável. Para mim ela era a mulher mais bonita do mundo. Tinha um cabelo claro e encaracolado que a dava um ar exótico. Sobrancelhas arqueadas simetricamente sobre olhos verdes que transmitiam serenidade e inocência. Um nariz bem feito e levemente arrebitado sombreava uma boca carnuda e sensual. Seu corpo era a imagem da perfeição feminina.


Tinha praticamente tudo. Para mim perfeito quer dizer que partindo da ponta dos dedos do pé até a ponta dos fios de cabelo, tem que estar tudo dentro simetria e da proporção. Isso reflete a magnitude do admirável. Não como a maioria das mulheres, que sempre falta algo. Muitas têm seios, mas falta o resto, se tem traseiro não tem pernas e se têm pernas, os pés são muito grandes e assim por diante. Há horas que fico pensando, como consegui segura-la por quinze anos. Um amigo uma vez me disse, que casar com mulher bonita é ter quentura de cabeça e viver na corda bamba. Eu já penso que tudo depende da mulher. Se ela tiver a cabeça no lugar não há perigo que nos rodeie. Agora, para uma convivência aceitável entre um casal, o principal é que os dois tenham uma boa cabeça. Aprendi isso , depois de levar varias pauladas. Se uma mulher tem todos os atrativos da beleza feminina e não tiver miolos, de nada vale. Mas voltando a minha vida, digo que tudo tem um fim e casamentos também. Trabalhava eu em uma empresa e tudo seria uma boa se não fosse um chefe que não gostava de mim e fazia tudo para me aborrecer. Certa vez chegou a me suspender por três dias devido a uma pequena falha de minha parte. Eu sempre pensava em sair de lá, mas as oportunidades não apareciam e também não iria arriscar pedir demissão sem ter arranjado outro serviço. Eram tempos de crise, e quem vive no terceiro mundo sabe que naquela época,perto dos quarenta era quase impossível obter emprego. Por outro lado eu tinha o mau hábito de me acostumar com empregos e uma enorme preguiça de correr atras de coisa melhor. Era na verdade um perdedor.Tudo aquilo estava me dando uma grande angustia e já começava a ter sinais de depressão. Hoje sou uma pessoa mais calma e encaro as dificuldades e problemas de uma forma mais sábia. Naquele tempo, tinha a ira e a desafronta como parceiras. Existem pessoas que não vão com nossa cara deste o primeiro momento. Você olha para o indivíduo e tem como resposta um sinal negativo invisível, que somente você percebe. Devemos nos manter afastados dessas pessoas porque delas nada virá de simpatia ou colaboração. Com esse meu supervisor foi assim. Infelizmente era obrigado a prestar-lhe contas do trabalho. Parece que me odiava, pelo simples fato de eu existir. Eu me humilhava e aguentava tudo quieto sem reclamar. Não adiantaria fazer uma reclamação para os superiores. Quem trabalha ou trabalhou em empresas sabe que isso só acarreta mais problemas para o nosso lado. Quando se tem problemas com o chefe e não há solução, melhor é pedir a conta e sumir. Com o tempo passando e a situação perdurando, tudo ia ficando mais difícil. Começou a crescer em mim uma antipatia pelo sujeito que foi se tornando rancor e por fim desabrolhou em ódio. Eu sabia que isso iria ter um fim, mas não sabia a forma. Com toda calma arranjada e toda paciência construída eu esperava. Não sabia exatamente o que esperava, mas lá na profundeza de minha alma, algo me dizia que teria um desfecho. Bom ou mal, mas teria. Certa vez li em um livro que as coisas mudam sempre. Indiferente de nós querermos ou não. Faz parte da sequência do tempo. Até na bíblia tem uma passagem, dizendo que existe tempo para tudo. Isso quer dizer também que depois que passa o tempo para determinada coisa, não adianta correr atrás. Exemplo disso é a juventude. Devemos viver conscientes disso, ou viveremos na decepção. Eu já estava cansado de esperar uma mudança. No serviço o clima era sempre pesado e nebuloso quando ele estava por perto. O meu alento todos os dias era a espera para chegar à casa a tarde, junto com o sol poente e encontrar Beatriz, que era o refrigério para a minha alma. Era como se um sol se escondesse no oeste e outro nascendo no leste, iluminasse uma manhã radiante. Ela era a minha luz. Sua beleza superava a Beatriz do paraíso, com toda a certeza. Não havia concorrência. Falando dela aos amigos , muitas vezes me aconselhavam não a idolatrar tanto. Poderia se tornar algo doentio, se um dia viesse a decepção. As pessoas tem suas fraquezas e com isso muitas vezes nos decepcionam. A noite muitas vezes quando perdia o sono, começava a divagar pela torrente de pensamentos e a parte ruim do cérebro fica a planejar coisas impossíveis de se fazer na realidade do dia a dia. A morte do homem entrava em cena, criando situações imaginarias de uma melhor forma de levar a cabo sua extinção. Fazia estudos estratégicos e mil projetos de ação, mas tudo ficava engavetado em meu cérebro. Parecia ser uma forma de me aliviar das tensões, ou me afundar mais ainda nas águas da angústia. Não tinha coragem de tomar uma atitude violenta contra qualquer pessoa, mesmo que a odiasse tanto. Na verdade eu era até meio covarde. O medo me fazia agir completamente ao contrario de meus pensamentos. Tinha certa raiva de mim mesmo por ser assim. Admirava pessoas destemidas, que lutavam por uma causa e mesmo com sofrimento conseguiam atingir seus objetivos. Esses eram os verdadeiros heróis da vida. Batalhadores, guerreiros. Talvez nem fossem, mas para mim o eram pela incapacidade de igualá-los. O mundo foi girando e o tempo passando. Cada dia era novo, menos para mim que estava preso aquela rotina de sofrimento.



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