País largado 8



















APÓS QUATRO MESES, TRAGEDIA NÃO ACABOU EM SANTA CATARINA
AE - Agencia Estado
ITAJAÍ - A vida segue silenciosa na casa de Gisele Reichart, moça de 27 anos
cujo rosto magro e expressivo parece marcado pelo sol e pela tristeza. Às 13h30
da última terça-feira, ela cavucava a terra de seu jardim para plantar uma
árvore baixinha, torta e cheia de galhos desordenados, que, de tão pequena,
mais parecia um arbusto.

Moradora do Alto do Baú, área brutalmente devastada pelas chuvas que
atingiram Santa Catarina em novembro do ano passado, Gisele
quase não fala.?Isso aqui significa muito para todos nós?, diz ela. Aquele arbusto
todo torto é o que Gisele tem hoje de mais precioso. Ele estava plantado na porta
do sobrado de sua mãe, morta no deslizamento de um morro.

O mesmo desabamento ainda matou outros seis parentes; a irmã, dois tios,
duas primas e o cunhado. Tudo o que sobrou em pé foi a árvore, replantada na
semana passada no jardim de sua casa.A catástrofe que começou no dia 22 de
novembro do ano passado e que deixou 137 mortos teima em não passar para
milhares de famílias catarinenses.

A lama secou, o mato cresceu, as câmeras de TV se foram e o comércio retomou
suas atividades. Mas, exatos quatro meses depois, ainda há 2.637 pessoas
morando em abrigos e outras 9.390 vivendo de aluguel ou de favor na casa de
parentes e de amigos. O dinheiro do governo federal para a reconstrução das
residências ainda não chegou.
O Estado de S. Paulo.
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